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Sri Yantra - a dança geometrica de Lalita


Na coluna anterior, falei o significado geral de mandala e yantras (símbolos geométricos específicos usados como suporte para a meditação) e prometi um artigo em especial para descrever o mais conhecido entre os Yantras: o Sri Yantra.

Uma vez, quando criança, me lembro do pensamento que tive quando um dia derrubei o açúcar na mesa e pensei “como será que todos os grãos se esparramaram de um jeito quase simétrico?” Havia um tanto mais no meio e os grãos se distanciavam uns dos outros quase perfeitamente. Olhei para meus bracinhos e pensei “como cada pelo do meu corpo se espalha por mim como se seguissem a ordem de uma inteligência geométrica? E as estrelas? Porque elas também parecem o açúcar esparramado na mesa? Será que é acidental, por acaso, ou tem ‘alguém’ que decide, a física?”

Olhemos à nossa volta, o lugar onde você posicionou o seu computador, sua cadeira, a xícara na mesa, seus livros, os fios do seu cabelo, a poeira microscópica que dança entre seus olhos e essa tela… se posicionam em seu devido lugar. Sem pensar muito, você ajeitou as coisas assim e as coisas se ajeitaram assim. Não importa a ordem – seguimos um padrão de forma que, tendo-se consciência dele ou não, é uma lei que nos rege profundamente.

No ocidente esse estudo é chamado de Geometria Sagrada, onde fórmulas como a Sequência de Fibonacci, o numero Phi, a proporção áurea e a Flor da Vida se descrevem em fórmulas matemáticas. Acredite ou não, mas creio que até nosso alfabeto já estava escrito antes, pela natureza! Veja o que o artista norueguês Kjell Sandved fotografou em seu projeto “The Butterfly Alphabet” na foto abaixo. É belo demais! Corte uma fruta e veja a posição das sementes, como formam uma estrela; trace o caminho que o planeta Vênus faz em volta da Terra e verá um desenho de uma estrela, olhe para o centro de um girassol e para as pétalas das flores.

A geometria sagrada é dita como a prova científica de Deus, sua inteligência por trás (ou talvez muito óbvia!) de “sua” criação, sendo Ele a criação em si talvez. No Oriente, o estudo da geometria já foi definida claramente como a linguagem do Divino. Entender sua forma, a forma do mundo e do universo, é entender os Seus mistérios. Lembro-me de uma frase que li de Buda:

"Vazio é forma, forma é vazio."

Eu entendo disso que, ao compreender a matéria, entendemos o espírito – e vice-versa. Ambos são o avesso da mesma coisa. Por onde olhamos, é sempre uma manifestação do Divino, sem divisões, muito menos preconceitos – pois tudo é regido por essa mesma inteligência. Observe mais algumas imagens interessantes, também estudadas a fundo por Leonardo da Vinci e muitos outros artistas, ou na arte islã também. E, na verdade, é a obra de todo artista, de todo ser; queira ou não, quem rege não é sua mente individual, mas um mestre muito maior: o próprio universo. A ilusão de individualidade é nosso maior obstáculo para a real imersão com o Divino.

Na Índia, como falei no artigo anterior, os rishis, ou os sábios, definiram, ou melhor, enxergaram, algumas das estruturas geométricas de certas inteligências – esses são os Yantras, muito mais baseados “na forma que o som gera”.

O Sri Yantra é a representação dessas forças do universo. Ele é feito de quatro triângulos apontandos para cima (energia masculina, Shiva) e cinco para baixo (energia feminina, Shakti). Suas intersecções formam outros 43 triângulos, cada um relacionado com uma inteligência (com um arquétipo, no caso).

O Sri Yantra é dedicado à deusa, ou ao arquétipo de Lalita Tripurasundari, que quer dizer “aquela que brinca’. Toda criação, manifestação e dissolução que ocorre é considerada uma brincadeira da deusa. Lalita tem três aspectos: a jovem, a bela e a terrível. Essas três fases representam o processo cósmico hindu: criação, preservação e dissolução (representado pelos deuses: Brahma, Vishnu e Shiva).

Prática de meditação com o Yantra

Meditar com a figura do Sri Yantra é “abrir” os olhos para o mistério que só nos é secreto pois não temos olhos para enxergá-lo. Então, quando se usa a prática de visualização da figura do Yantra, imaginamos ele na altura de nossos olhos e ao centro, onde está o “terceiro olho” ou, mais especificamente, nossa glândula pineal, considerada por muitos estudiosos de diferentes linhas e crenças a “antena captadora da ordem universal”.

Você pode usar uma foto do Sri Yantra exposta em sua frente para poder mirar confortavelmente. Abra os olhos, deixe a imagem se fixar na retina e feche os olhos, como se agora olhasse com o “terceiro olho”. Quando ficar à vontade com sua forma, sinta que o Yantra respira junto com você. Observe ele agora de fora para dentro, como a planta de um templo em que você irá entrar.

O primeiro “muro” é quadrado, o bhupur, representando o elemento terra, que guarda esse espaço. Ao cruzar por ele, você enxerga o círculo de 16 pétalas, conhecido como “realizador de desejos”. Esses são desejos de obter consciência e poder sobre os meios em que experienciamos o mundo e a nós mesmos (os órgãos físicos pelos quais percebemos o mundo, como os olhos, a pele, etc). O segundo círculo, de 8 pétalas, são os veículos de exploração do mundo, como a fala, prazer, rejeição, necessidades biológicas, etc. Nesse momento você se dá conta que através deles é que você reconhece o mundo e se pergunta quem é você realmente, até o momento em que não há diferença entre o fora e dentro, eu e você, aquele que vivencia e o que é vivenciado.

Ao entrar nos triângulos, lembre-se de Lalita, aceite quem você é no momento, pois seu corpo, seus pensamentos, suas necessidades e realizações mudam, essa é a engenharia do universo que você não muda e da qual você faz parte intrinsecamente. Entregar-se à essa noção de unicidade é a experiência que o Sri Yantra nos traz. Deixe os muros para traz e abramos os olhos, todos eles!

Até a próxima, com um pouco mais da Geometria Sagrada no Oriente Médio.

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